Ongaku to Hito Junho/2010 Entrevista: Kyo / Parte 2

Quando escuto bandas que tocam juntas dizendo, "O show de hoje foi bom", eu penso "Você realmente acha isso?"


--Mas, sem as diferenças no entusiasmo, e alem disso, comunicar-se com alguem com a mesma genuinidade é bem dificil não? Por exemplo, durante uma conversa normal, você sentiria um stress ou um sentimento de desapontamento do tipo "O que ele está dizendo?" ou "Mesmo se eu disser algo, ele não vai entender.".

Kyo: Eu não falo com pessoas assim.

---Hahahahaha!

Kyo: Eu tenho que ir a algum lugar em 5 minutos (risadas). Eu desisto rapido. Se eu ver que ele esta tentando entender a outra pessoa, dai tudo bem, mas mesmo se eu não entender o que eu digo e ele estiver tentando entender esta ok, do contrario começa a ficar cansativo.

--Mas não é isso que acontece?

Kyo: Sim.Por isso eu não tenho amigos (risos).

-- (Risadas) esse tipo de dificuldade na comunicação, o " eu não entendo" ou "não entendo essa pessoa", esse sentimento começou quando?

Kyo: Há muito tempo(risos).

-- (Risos) Por favor me conte a respeito.

Kyo: Bem, sempre foi assim. Claro que tambem houve vezes em que eu estava errado e a pessoa estava certa...Mas, eu nunca liguei mesmo quando estava errado.Porque todos os humanos tem personalidades diferentes e tambem, como esperado, mentalidades diferentes.

--Você ja teve esse tipo de experiência alguma vez?

Kyo: Aah…..bem. Eu ja até esqueci. Mas eu sentia constantemente isso antes. Por isso não sinto necessidade em me acomodar. Por exemplo, na compilação de um single a uns anos atras, nós incluimos uma faixa ao vivo, eu arriscadamente inclui uma música em que destrui minha voz propositalmente e não consegui cantar completamente. Isso porque pensei que existem coisas que não podem ser comunicadas de outro jeito. Mas mesmo assim, coisas que pensei que seriam comunicadas não foram comunicadas completamente, e houve apenas o simples pensamento "essa pessoa não sabe cantar".  Para as pessoas que vieram aos nossos shows varias vezes, elas entenderiam o porque colocamos uma música que não podia ser cantada, mas quando você vê isso a partir do ponto de vista de uma pessoa que não vem aos shows, talvez eles pensem "você não sabe cantar isso" e isso seria o fim. Por essa razão eu penso que coisas que não são comunicaveis não serão comunicadas. Isso sempre foi assim.

--Esse sentimento de "não será comunicado de qualquer jeito" que você sentiu antes, de alguma forma pos você na direção da banda ou das músicas?

Kyo: Eu fico pensando sobre isso...para mim, eu não preciso "virar" nada, sempre. Até a oitava série eu não tinha sonhos. Eu não entendia porque as pessoas a minha volta estudavam. Eu sempre pensava "isso é  util?". Se aquilo fosse util então eu tentaria trabalhar duro mas eu sempre pensava, "Qual é a vantagem de estudar  esse monte de conhecimento inutil a não ser ir para o colegial ou faculdade?". Se for assim, a pessoa não deveria passar o tempo fazendo aquilo que ela quer fazer melhor?... Mas eu tambem odiava esportes...

--Você se preocupava com isso?

Kyo: Preocupado não, entediado. Eu me entediava com tudo que fazia... mas durante o periodo em que eu não queria fazer nada, eu me surpreendi com uma banda. E aquilo era a única coisa que eu via.

--Por sinal, qual banda era?

Kyo: BUCK-TICK

--Qual aspecto surpreendeu você?

Kyo: Eu imagino... Talvez porque eles não eram comuns. Eu até aquele momento odiava música, quando você ligava a TV apenas idolos ficavam aparecendo. Eu só conhecia aquele tipo de musica.  Alem disso quando eu ia para a escola, as pessoas só falavam a respeito de "alguma coisa sobre um tal de Hikari GENJI?” e coisas do tipo. Eu achava aquela musica uma merda(risos).Mas durante aquele tempo, eu conheci bandas que transbordavam um espirito rebelde e eram completamente diferentes daquele mundo, como X  ou BUCK-TICK. Mesmo suas aparências eram surreais e pareciam ser de outro mundo. Pareceu estranho, e foi nisso em que gradualmente eu me joguei. Por isso eu não falava muito com as pessoas ao meu redor.

--Então você ficava sozinho nas aulas?

Kyo: Exatamente. Era bem assim quando eu estava na escola. Nela, você era dividido entre ser ruim ou ser correto, certo? Mas eu não pertencia a nenhum dos dois. Alem disso, os profesores me odiavam. Por isso eu não tinha muitos amigos.

--Normalmente as pessoas tem medo de fazer algo desse tipo e acabarem sozinhas, então mesmo se eles não estiverem interessados e mesmo se havia alguem ali de quem você não gostasse, ainda assim eles eram parte do mesmo grupo, não? Então você diz que não fazia isso?

Kyo: Sim. Nesse caso, eu não ligava se estava sozinho. Por essa razão desde então, isso não mudou nada.
"Se você não me entende então não me importa se você não me entende".

--Isso é literalmente, a postura do DIR EN GREY.(risos).

Kyo: Exatamente. Por isso eu penso que quero dar importância àquelas pessoas que dizem que realmente amam nossos "eu" presentes.

--Ok, eu quero perguntar a respeito de depois que você se surpreendeu com aquela banda, depois de se encontrar com o conceito dessas bandas, quando você pensou que aquele era o seu lugar? 

Kyo: Desde a primeira vez que me surpreendi. Desde o tempo em que eu nem tinha formado uma banda. Mas, quando formei uma banda, uma coisa similar aconteceu. Eu sou de Kyoto, e naquela época, o cenário musical de Kyoto era meio diferente, todos de todas as bandas eram muito amigos, e eu odiava aquilo.

--Hahaha.

Kyo: Bandas eram boas amigas entre si. Mesmo se eles se separassem, eles definitivamente se juntariam a outra ali perto. Eu odiava mesmo isso. A banda que imaginei não era daquele jeito. Todos eles são seus inimigos, na verdade não são mas assim dava uma sensação mais tensa.

--De certo modo, você sentiu que era como uma classe na escola.

Kyo: Bandas naquele tempo faziam coisas como ir a festas com os fãs após o show, mas eu não entendia a razão. Eu constantemente pensava "por que temos que ir beber com os fãs?". Mas parecia que aquilo era um fato. Eu pensava "Você esta numa banda, você faz musicas, você faz shows, mas tem algo mais alem disso?" eu não falava com a maioria dos fãs e era dificil quando eles iam a festas. Eu odiava aquela bajulação, então eu deixei Kyoto e fui para Osaka. 

--Entendo. Por sinal, independente disso, na banda em que você estava naquela época, era divertido?

Kyo: A banda era divertida. Era interessante não importava o que fizessemos. Claro que naquele tempo nós não sabiamos como compor músicas e chegou ao nivel de "como encontramos membros?". Mas enquanto nós copiavamos e faziamos panfletos, eu gostava da sensação de que estavamos chegando nem que fosse um pouco, perto das bandas que adimiravamos. Mas honestamente, naquele momento nunca achei que nós venderiamos.

--Apenas curtia a banda e a musica.

Kyo: Sim, eu gostava, eu não fazia nada diferente daquilo. Por isso, mesmo agora...eu me lembro. Durante o primeiro show da minha primeira banda, eu me irritei com todas as pessoas conversando e sentadas no fundo. " Se você não quer assistir, então por favor, vá pra casa.". Eu disse isso naquela vez.

--Hahaha. Você não perdoa coisas que interferem com seus próprios sentimentos genuinos.

Kyo: Correto. Por exemplo, bandas que tocam juntas diriam " o show de hoje foi bom", certo? Toda vez eu penso "você realmente acha?".

--Você tambem não consegue perdoar esse tipo de conversa superficial.

Kyo: Eu não preciso desse tipo de amigos.

--Esses sentimentos negativos tambem se refletiam na musica que você fazia naquela época?

Kyo: Sim.  As letras e a musica eram centrais. De qualquer forma, eram sombrias. Até agora eu só fiz esse tipo de música. Músicas do tipo "Vamos todos ser felizes" são frias. Eu basicamente não aguento.

--Então, depois de se mudar de Kyoto para Osaka e estar realizando suas atividades, o DIR EN GREY foi formado.

Kyo: Na banda anterior ativa em Osaka, fiquei apenas um ano, em todo caso eu não estava interessado nas pessoas de outras bandas. Mas quando tocamos com outra banda, eu de alguma forma fui  atraido até o Toshiya (baixo). Naquela vez para variar, eu fui o primeiro a falar com ele (risos). Eu fiquei amigo dele. Depois pensei que queria tocar com ele numa banda.

--Por que você queria ser amigo dele?

Kyo: Por alguma razão, ele "brilhava". 

--Mas para Kyo-san, mesmo pensando assim, você não é o tipo de pessoa que nunca toma a iniciativa?

Kyo: Bem, eu gosto de falar com pessoas que considero legais. E, exclusivamente, eu achei que ele era legal.

--Você lembra o que disse para ele?

Kyo: Eu não me lembro (risos). Eu acho que foi em Nagano ou em alguma casa de shows. Mas de alguma forma, eu realmente lembro que estava nervoso quando abordei ele.

--Toshiya-san tambem não parece ser uma pessoa muito comunicativa.

Kyo: Hahahaha! Sim, esta certo...

--Então foi desconfortavel no começo?

Kyo: Bem, ele tambem pareceu interessado em nós e então imediatamente nos acertamos.

--Isso é estranho.

Kyo:  Sim, foi realmente estranho. Foi como se quando eu tentei falar com ele, eu pensei "nós combinamos como o esperado". Mesmo depois daquilo não houve nenhuma cumplicidade estranha (puxa-saquismo), e nunca se tornou uma relação forçada e sempre teve um sentimento perfeitamente natural. Nós falavamos sobre como seria legal fazer algo juntos.

--Se esse encontro não tivesse acontecido, talvez a banda não existisse hoje.

Kyo: Talvez.

--Alem disso, isso começou com 2 pessoas socialmente desajeitadas que de alguma forma deram um jeito de falar uma com a outra e se deram bem. Essa é uma banda que nasceu de uma relação/conexão muito humana.

Kyo: Exato.

--Depois disso, você se lembra como foi quando vocês cinco fizeram música juntos?
Kyo: Como foi... nós estavamos muito ocupados quando começamos a banda.

--Ah, repentino.

Kyo: Logo após formarmos a banda, o escritório em Tokyo ligou e disse "Vocês podem vir até aqui?". Nós não tinhamos nenhum dinheiro, e fomos a Tokyo, e logo conversamos sobre fazer um mini album. Mas já que não tinhamos músicas, passamos uma semana enfiados num lugar fazendo algumas. E foi assim logo depois que formamos a banda; nós não tinhamos o luxo de pensar no futuro a principio. Mas, quando faziamos um show, os ingressos esgotavam.

--Isso não faz sentido, não é?

Kyo: Sem levar em conta, que havia muitas coisas que tinhamos que fazer. E antes mesmo que eu percebesse, nos tornamos major. E foi assim. Por isso não parecia nem um pouco real. Mas eu i só maginava porque não tinha dinheiro para comer (risos). Mas mesmo assim, a banda era divertida, e as condições eram boas. Nossos shows vendiam e logo tocamos em Shibuya e no Nakano Sun Plaza.

--Quando isso aconteceu, um tempo atras você mencionou que não pensava em vender mas de fato você gradualmente vendia, certo. Alem disso logo após vocês formarem a banda. Naquele momento no que você pensava?

Kyo: Eu provavelmente não pensava em nada. Naquele tempo eu planejei pensar muito a respeito, mas quando olho para tras, eu vejo muitas coisas  sobre as quais eu era ingenuo a respeito. Entretanto, quando eu olhava as bandas ao meu redor, não havia nenhuma que eu não achava legal, eu pensava que talvez podiamos fazer aquilo.

--Quando ouço sobre um episódio daquele tempo, houve momentos felizes e divertidos enquanto você estava na banda certo? Então definitivamente não havia apenas sentimentos negativos. E durante aquele tempo, você não sentiu que seus sentimentos estavam abertos? Como por exemplo, ter um desejo ou um futuro brilhante?

Kyo: Um desejo, ou melhor... bem quando formamos o DIR EN GREY, eu apenas pensava "talvez possamos fazer coisas interessantes". Mas eu nunca tive esse tipo de sentimento.

--E isso nunca mudou.

Kyo: Não.

--Por exemplo, mesmo durante os shows recentes no Budokan, entre as músicas houve momentos em que você gritava continuamente, esse é claro o jeito mais simples de expressar os sentimentos negativos dentro de você, certo?

Kyo: Certo.

--Mas, continuamente gritando.Tem sido assim desde que conheci você. Colocando de forma simples, por que você grita tanto?

Kyo: Não é porque eu simplesmente gosto?

--Isso não é algo que possa ser feito com um sentimento leve como "gostar"...

Kyo: Eu imagino…

--E o que eu pensei após ouvir tudo o que conversamos até agora é que talvez Kyo-san, esse é o jeito mais genuino de se comunicar.

Kyo: Você quer dizer gritando?

--Sim. A expressão de Kyo-san é baseada em tristeza e raiva, e desde o começo esses sentimentos são algo que as pessoas não conseguem entender e o que surge é um tipo de depressão com coisas imperfeitas. E para as pessoas que carregam o mesmo sentimento, que querem gritar mas não podem, você grita por eles. 

Kyo: Ah...

--Por isso acredito que esse tipo de sentimento de unificação nasceu no show. Em outras palavras, foi uma forma de se comunicar bastante pura.

Kyo: Ah, sim, eu de alguma forma sinto o mesmo. Não é que eu me foque e grite... mesmo quando grito, você consegue ver o que esta por tras disso.

--Coisas que estão por tras disso?

Kyo: Isso pode ser meio cafona mas adiante de vocês, vocês podem ver uma luz e algo do tipo, certo? Como um sentimento de que esta se aproximando de algo. Esta lá. E eu acho isso muito importante.

--Por isso você nunca pensou em cantar de forma leve (coisas positivas e felizes).

Kyo: Sim, coisas alegres causam uma reação adversa comigo. Eu penso, "não ha nada desse tipo". Como por exemplo, não ha nada parecido com uma luz absoluta. Eu acredito que é mais importante ver algo realmente doloroso e sentir isso do que ver uma coisa alegre e ficar meio feliz. Eu acho que tentando ver o  lado oposto de coisas tristes e dolorosas é mais importante. 

--Em outras palavras, você se foca na existência da luz.

Kyo: Sim.

--Alem do mais, já que você não quer ser traido pela existência dessa luz, você não pode facilmente acreditar nela.

Kyo: Eu acho que essas coisas estão porai em algum lugar. Nós fazemos esse tipo de show mas nos faria felizes se as pessoas que nos vissem se sentissem aliviadas ou salvas. Mas sentir-se salvo ao assistir nosso show e assistir um show apenas pela diversão e sentir-se salvo, tem significados completamente diferentes.

--Em outras palavras, você quer acreditar apenas nas coisas positivas.

Kyo: Ah, talvez.

--Você não deseja uma luz superficial porque você quer ver a luz real. É a mesma forma de Kyo-san se envolver com as pessoas.

Kyo: Exato.

--Nesse caso, eu acho que os shows no Budokan foram tambem shows onde pareceu possivel alcançar algo alem da dor. Em outras palavras, a banda continua sempre tocando musicas que tem emoções negativas mas as pessoas que se indentificam com vocês chegaram a esse ponto. Tambem, conforme você ganha experiência e envelhece, pouco a pouco você se torna aberto com as coisas que foram negadas, com a desconfiança e com o que não se conseguiu perdoar até então.

Kyo: Bem, eu penso sobre isso. Não sinto isso realmente... Mas mesmo se algo assim acontecesse, seria algo muito natural.

--Alem do mais, conforme você envelhece você simplesmente não se cansa de ficar irritado? Apesar de que essa foi a força impulsora no passado.

Kyo:….Eu odeio as coisas que odeio, e amo as coisas que amo. Isso nunca mudou. Mas isso não é facil? Odiar coisas que você odeia e separar-se delas. Recentemente, é por isso que eu tento repreender a mim mesmo e perdoar pessoas que eu pensava odiar.

--Mesmo?

Kyo: Isso não é cansativo? Perdoar pessoas que você odeia e que te fizeram mal. Mas isso não é por elas, mas sim por mim. Tambem, quando alguem diz "você amadureceu" eu penso "eu não amadureci" mas,  eu tenho pensado que de alguma forma o próprio pensamento de odiar algo torna as coisas mais faceis pra mim? Então mesmo sendo cansativo, eu tento perdoar, e eu imagino o que será do meu próximo eu. Nesse caso, eu penso que ha partes que mudam pouco a pouco.

--Isso desde quando?

Kyo: Quando...? Acho que depois que fiz 30, como esperado. Até então, quando odiava alguem, eu jamais gostaria dele de novo.

--Hahahahahaha!

Kyo: Não importa  o quanto  aquela pessoa fizesse o seu melhor, já era impossivel. 100% impossivel. Porque eu odiava a pessoa. Por isso para mim era muito dificil perdoar alguem que eu passei a odiar tanto, mas se eu superar isso talvez eu descubra algo. E por isso que por enquanto, eu perdoo apenas pessoas com até 25 anos que ainda não conquistaram nada(risos).

--Dessa forma, pouco a pouco a existência da tristeza e da raiva dentro de Kyo-san tambem mudariam, certo?

Kyo: Talvez já tenham mudado. Mas eu não penso a respeito disso



Créditos: Orchestrated Chaos



*Tradução da ultima parte na quinta feira.
Por Aiko

0 comentários:

Postar um comentário